quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A VIDA QUE SEGUE...

Estado de alegria. Tirei meu gesso! Nem acredito. Foram ao todo 44 dias de castigo. Agora começa uma nova etapa. Seções de fisioterapia com minha querida amiga e fisioterapeuta Fafô. Aproveito e volto a malhar.

Parece que estou nascendo de novo. Tenho uma sensação boa dentro de mim. Meu braço não me obedece em nada, mas é só uma questão de tempo. Ele voltará a fazer parte do meu corpinho.

Vejo pessoas no hospital numa situação caótica e eu saindo sem aquele trambolho no braço. Sou uma felizarda pensei. Quantos gostariam de estar no meu lugar. Deus gosta realmente de mim. Não é a toa que o admiro tanto.

Na Bíblia tem uma história lindíssima de Jó. Tudo dele foi tirado: dinheiro, família e saúde. Em nenhum momento Jó praguejou. Sempre dizia que se Deus poderia lhe dar coisas boas, também poderia lhe permitir que coisas ruins acontecessem. Assim o diabo desistiu dessa batalha e Deus restituiu a Jó em tudo duplamente. Um homem de fé. Adorar à Deus quando tudo está "nos trincs" vá lá...mas na situação dele são outros quinhentos.

Na hora que caí do cavalo e me pus em pé, vi que estava sendo presenteada. Poderia ser pior. Muitas tragédias num intervalo de minutos acontecem numa queda dessas. Pensei no Christopher Reeve, o eterno Superman, que após a queda de um cavalo ficou tetraplégico. Após minha queda soube de vários acidentes graves e imagino que o meu foi uma sorte. O danado do cavalo pulou pra frente, pra trás, me sacudindo, tentando me tirar de cima dele. Resolvi pular antes que ele me tirasse na marra e aconteceu tudo isso.

Agora é continuar a vida. Acreditar nela. Confiar e prosseguir...
Quedas, tombos e hematomas fazem parte. Não temerei. Minha caminhada é longa e curva, mas meu fardo é leve. Carrego ele com convicção e alegria. Jó é minha inspiração.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

PERGUNTA QUE EU TE RESPONDO...

Após assistir incansavelmente ao resgate dos chilenos, tomei coragem de voltar a blogar. Confesso que escrever com a mão direita sem o auxílio da minha querida canhota me deixa exausta.
Pensando bem, é apenas uma mão quebrada, após uma queda de um cavalo chamado Zidane, operada para inserir uma placa de titânio no punho, e posteriormente um gesso que vai até embaixo do braço durante vinte dias, num calorzinho que queima e coça, sabendo que ainda enfrentarei dias de fisioterapia para voltar ao normal. O que é isso perto do que aquela turma enfrentou?
Aquele quase não girar daquela roldana me dava nos nervos. Meus pés sacodiam, ficava aflita, agoniada, fazia comentários descabidos. Parecia que só tinha gente conhecida naquele buraco. Cada um que saía comemorando, meus olhos se enchiam de lágrimas. Assistia a um filme ao vivo e a cores onde os personagens eram meus parentes e amigos.

Antes do resgate, minha filha, ouvindo no rádio essa história, me perguntava o que aqueles mineiros estavam fazendo no Chile, e pior, embaixo da terra? Não eram felizes em Minas Gerais?

Após explicar todo o enredo dessa história no Chile, lembrei-me de um comentário na época de faculdade.

Estávamos em época eleitoral e o candidato Carlos Minc panfletava no pátio almejando sua vaga ao cargo de vereador. Olhei pra ele e para o "santinho" (que na verdade tinha que se chamar porquinho, devido à sujeira que deixa nas ruas) e disse:
- Eu já vi uma reportagem sua! Você não é aquele cara que já viajou de barco pro Polo Sul?
-Não Fernanda! Aquele cara é o Amir Klink! - respondeu o Márcio imediatamente.

Sem graça fui imediatamente motivo de risos. Carlos Minc, muito simpático, disse que ele já tinha viajado pra vários lugares, mas nem tão longe e isolado. Tudo por um voto! Deve ter pensado. Hoje conheço um pouco da sua história e das suas "viagens".

Anos passados ainda dou boas risadas dessa passagem na faculdade. Vejo que minha filha ao fazer qualquer comentário sobre qualquer assunto, acaba assim adquirindo conhecimento. Hoje ela sabe tudo sobre o assunto "mineiros que não são de Minas soterrados numa mina no Chile".

A ignorância acompanha o conhecimento. É como uma lagarta que vira uma borboleta. Basta querermos e ele aflora dentro de nós. Da pergunta nos enchemos de respostas. Os pontos de interrogação viram exclamação. Os mineiros passam a ser profissão, Carlos Minc um político viajandão e Amir Klink apenas um navegador em exploração.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O POVO MAIS FELIZ DA TERRA

Acabei de ler um livro chamado O Povo Mais Feliz da Terra.


Ganhei de uma irmã de fé chamada Sueli e desde que comecei a ler não consigo parar de pensar nele. Trata da história de um homem de negócios chamado Demos Shakarian. Armênio, ele relata fatos impressionantes ligados à fé. Ligações e fatos ocorridos com Deus que nos deixa perplexos, e a mim com uma certa ponta de inveja.

Demos ouve Deus e sente a presença do Espírito Santo. Consegue curar a irmã e a si próprio em momentos milagrosos. Em tudo que ele faz existe a presença do Senhor. É um homem de hábitos rústicos, trabalha com gado e lida com terra. Consegue num momento de oração curar todas as vacas leiteiras, touros e bezerros condenados à morte por uma doença onde devastou a maioria do gado na região.

Num tempo onde homens de negócios só pensam em enriquecer e viver para o trabalho, Demos recebe do Divino a responsabilidade de montar uma associação chamada ADHONEP, Associação de Homens de Negócio do Evangelho Pleno, onde empresários, médicos, professores, comerciantes e pessoas comuns, num jantar ou chá se reunem e contam suas experiências com Deus. Começou com sete membros e hoje se alastra em todos os continentes levando esperança e a certeza que Jesus pode modificar a vida de qualquer pessoa.

É uma história linda. Um homem usado por Deus, ungido pelo espírito santo, que proporciona aos incrédulos um momento de reflexão.

Pergunto: até que ponto vai minha fé? Creio que Deus está no domínio tal qual Demos nos conta? Tenho a certeza de que tudo o que faço tem um propósito? Deus quer conversar comigo e não tenho fé suficiente pra poder ouví-lo? Se isso acontece, como faço pra ouví-lo? Eu também quero ter essa experiência!

Já tive somente uma experiência extraordinária ligada ao Espírito Santo quando meu pai estava na UTI, mas quero mais, muito mais. Quero ter uma fé ilimitada e um amor incondicional tal qual Jesus Cristo. E quero, mais do que nunca fazer parte do Povo Mais Feliz da Terra.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

SEXTA FEIRA


Aqui em Cabo Frio, toda sexta-feira é dia de recebimento nas obras. Pra quem não conhece a fundo, Cabo Frio cresce a passos largos. É um prédio subindo atrás do outro. Casinhas de temporada, com móveis de alvenaria, sendo destruídas aos montes para dar lugar à caprichados e pomposos edifícios.


O curioso é que me deparei nessa sexta com um grupo de funcionários de obras dentro do Banco do Brasil, recebendo seu suado dinheirinho semanal, resultado de muito trabalho braçal, e depositando na conta de mulheres.


Tinha um "chefe" ou talvez o único que soubesse ler e escrever, que ia preenchendo os envelopes um por um. Me deu uma vontade danada de ajudar, só pra saber pra onde iam aqueles valores, que somados dariam um bom dinheiro.


- Regina Valquíria de Souza, trezentos reais.


Dizia um magrinho de calça social azul clarinho, camisa de malha, boné e chinelo de dedo (a maioria usa calça social, dobrada na barra, boné e chinelo). Em seguida dava o número da agência e conta corrente, confiando plenamente naquele que preenchia os dados nos envelopes. Era sempre um nome de mulher (e curiosamente nome composto).


Quantas famílias estavam sendo beneficiadas com aqueles depósitos? Pensei. Quantas saíam talvez da miséria com aqueles valores? Quantas mães, mulheres ou irmãs poderiam realizar o sonho de comprar uma televisão, geladeira ou sofá. Há sim! Ouvi um dizer que a mãe dele ia comprar uma cama pois estava com cinquenta e sete anos e sempre dormiu em redes. E quantos filhos teriam a barriga cheia para poderem, talvez, almejar um futuro longe da pobreza?


Sai daquele banco com uma sensação de prazer por estar presenciando a alegria daqueles homens, que mesmo de longe, contribuíam com a família e tinham um compromisso sobrenatural em ajudar. As mãos calejadas, o pé rachado, o rosto queimado de sol e todas a dores musculares que sentissem não eram em vão. Na próxima segunda-feira estarão prontos à colocarem mãos à obra. O tijolo, cimento, areia lavada, areola, azulejos os esperam, e uma cidade que cresce numa rapidez demasiada contribui para a prosperidade de muitas Marias do Perpétuo, Claudias Lucia, e Marias do Socorro.


Não é a tôa que sexta-feira é um dia com uma energia alegre e feliz.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

DIA DOS PAIS




Ao contrário do que vejo na tv, rádio, internet, dia dos pais não é dia de presente. Dia dos pais é dia de presença. É dia de lembrarmos que aquele homem que nos proteje, defende, que se orgulha de nós, mesmo sabendo que talvez não sejamos motivo para isso, está presente na nossa vida.
Existem pais que nem são tão presente assim, eu sei, mas em algum momento se fizeram presentes para que alguém existisse. Portanto se você não tem um pai existente ou presente, saiba que nesse caso é motivo de comemorar o dia dos pais sim, pois ele te fez existir. Então compre um presente pra você mesmo e comemore sua presença nesse mundo. No meu caso meu pai existiu, foi presente e muito, muito querido. Arcésio Francisco de Oliveira Villela, pai desta que vos escreve e tem um orgulho enorme de parecer com ele.
Voltando às multimídias que exploram essa data paternal, não queria comprar nem dar sapatos, perfumes, camisas, meias ou celulares. Queria estar com meu pai nesse domingo e somente dar carinhos, beijos, abraços e sorrisos. Ele bem que gostava de um presentinho mas eu queria mesmo era encostar minha cabeça no seu peito, segurar sua mão, queria vê-lo deitar no meu colo, vê-lo sorrir, vê-lo...
Ele nem era tão carinhoso assim, mas sempre fantasio essa vontade enorme de botar sua cabeça no meu colo e vê-lo cochilar enquanto mexo nos seus poucos cabelos grisalhos. Continuarei fantasiando e um dia realizarei se assim Deus permitir.
No domingo vou fazer um almoço para meu marido, tão amado e um pai exemplar. Em decorrência da nova aquisição do apartamento não vou comprar nenhum presente pois ainda estamos substituindo luxos por prioridades. Antes um blindex no banheiro do que uma calça a mais no guarda roupas, antes um toldo na área de serviço do que um tênis a mais na sapateira. Diferente do meu pai, ele não liga pra presentes. Meu marido e pai dos meus filhos brinca, estuda, orienta, conversa, conta histórias, piadas, joga bola, pega onda, desenha, passeia com o cachorro, faz supermercado, comparece nas reuniões da escola, conversa com professores, e sempre, sempre arruma um tempo pra se dedicar à eles. Meus filhos sabem o que é um pai presente. Quer presente maior?
Arcésio Francisco de Oliveira Villela não almoça comigo no domingo, mas alguém à sua altura estará comigo neste dia: Luiz Sérgio Rêgo Santos, o Cesinha, meu marido e pai dos meu filhos.

domingo, 1 de agosto de 2010

Bomba...


Chico, fuxico, paga um mico...

Bomba, zomba, tomba...

Pinga, ginga e me xinga...

Conta, canta e encanta...

Poeta do caipira e da toada...

O Chico Bomba bebe a pinga, conta e encanta e damos risada...
Seu sotaque é mineiro e seus "causo" são "caipira"...
Herança de seu Tininho, fala de jeito arrastado...
Chega de mansinho, contando um fato engraçado...

Pescou um surubim no São Francisco ...
Que de fato fora comprado...
Vale mesmo acreditar na sua história...
Do esforço de tirar do rio...
Aquela formosura de peixe...
Uma "obra" de doze quilos...


Família festejando o aniversário...
Do Chico Bomba em São Vicente...
E comendo o surubim comprado...
Que o Velho Chico nos deu de presente...


O Chico se chama Bomba...
Não é à toa meu irmão...
Ele detona de alegria...
A família de coração...
Numa explosão de sentimentos...
Nos deixa com muita emoção...
Tenho pena é da Renata...
Pois ela carrega essa Bomba...
A explodir em sua mão....














sexta-feira, 30 de julho de 2010

BIBI...


Fabiana faz aniversário. São 28 anos de uma vida com muitas histórias.

Nasceu sem saber quem era, de uma mãe que nunca viu, foi recebida por outra que dividiu o seu amor com todos os novos irmãos já maduros e se viu diante de um futuro promissor.

Saiu da maternidade da praça XV no Rio de Janeiro rumo ao desconhecido. Guiada pelas mãos de um anjo, ou vários, Deus não poupou esforços pra dar alegrias à ela. Pensou que ela seria um exemplo de luta, dor e garra.

Adquiriu toxosplamose na barriga da mãe e aos poucos perdeu parcialmente a visão do olho direito.

Na adolescência à base de várias "cabeçadas" tirou a todos do sério. Cheguei a dar várias palmadas e broncas naquela menina mimada, que fazia o que queria e não encarava as consequências.

Aos 18 anos ficou grávida de um namoradinho de férias e seis meses depois nasceram prematuramente Lucas e Gabriel com menos de um quilo cada. Passou quatro meses internada com aqueles "ratinhos" indefesos na UTI da maternidade e lutou bravamente para que Gabriel não desanimasse. Meningite, hidrocefalia, reumatismo, anemia e todos os agravantes conjuntos não eram motivos pra que ela tivesse a certeza que sairia do hospital com os dois irmãos com saúde e prontos, assim como ela, a encarar um mundo pela frente.

Meninos fora da maternidade com 5 meses de idade e Fabiana grávida de novo. Dessa vez duas meninas, Ana Rita e Ana Cecília, que nasceram saudáveis em decorrência de três meses de repouso absoluto da mãe que não queria passar novamente pelo pesadelo anterior.

Com quatro filhos entrando na igreja, Fabiana e Marcelo selaram para sempre uma relação de luta e esperança num casamento glorioso. O namoradinho virou um maridão e paizão.

Fabiana e Gabriel, mãe e filho, lutam com a frágil saúde mas nunca desanimam. São exemplos para a família. São exemplos de superação.

Fabiana nos adotou, ela nos quis, ela nos escolheu. Ser sua irmã é um orgulho e motivo de alegria. Ela me chama de Dedé ou Dé e eu a chamo de Bibi ou Bi, mas hoje eu queria chamar à Deus e agradecê-lo pela Sua obra para também vê-lo levantar a plaquinha dizendo "Eu Já Sabia!!"

quinta-feira, 8 de julho de 2010



AMOR E ÓDIO

Quanto vale a vida?
Quanto vale eu tirar sua vida?
Quanto vale eu me prender à sua vida?

ELA
Estou grávida de alguém que tem muito dinheiro mas pouco amor.

Estou esperando um filho que pode ser a solução dos meu problemas.

Estou empenhada em levar essa história até o fim, talvez até a minha morte.


ELE
Estou curtindo a vida numa escapulida do casamento. Não é amor.

Estou com um problema.

Estou decidido a não levar essa história até o fim. Vou acabar com isso.


INOCENTE
Cadê minha mãe?

Cadê meu pai?

Quem sou eu?


EU
Onde está a mãe dessa menina perdida?

Onde está sua família?

Onde está o princípio desse menino que era um ídolo e virou um monstro?

Onde está o temor à Deus desse homem que executou essa menina?

Onde estás...Deus?

segunda-feira, 5 de julho de 2010


TUDO VELHO NO NOVO!




Outra mudança na minha vida. Dessa vez estou indo pra casa própria. Depois de 15 anos morando de aluguel, finalmente conseguimos um apartamento à nossa altura e bolso. Numa dessas visitas às construtoras, Cesinha, na tentativa de vender material elétrico acabou convencido que poderíamos, e conseguiríamos adquirir nosso primeiro imóvel. Chegou em casa entusiasmado, falando pelos cotovelos, e principalmente otimista. Compramos praticamente na planta e sábado, dia 03 de julho de 2010 recebemos num coquetel de entrega nossas tão sonhadas chaves.







No domingo já começamos a mudança.
Nada de novo dentro do virgem apartamento. As camas, sofás, mesas e cadeiras me acompanharão até que tenha condições de trocá-los por novos. Tudo aos poucos se resolve e se substitui. Afinal o que importa é que lá estaremos começando uma nova etapa do resto de nossas vidas.










Gostaria que meu pai estivesse aqui comigo. Por mais que eu saiba que
ele esteja muito feliz com essa aquisição, queria subir com ele no elevador, abrir a porta e deixá-lo fazer as observações. Reparar e entender seus olhares de admiração ou reprovação e por fim vê-lo deitar na minha cama, lendo o jornal ou fazendo palavras cruzadas até fechar os olhos e com a boca aberta deixá-lo roncar, roncar e roncar.

sábado, 3 de julho de 2010


CHOCOLATE E TIO HELMUT
Hoje a Alemanha deu um baile na Argentina.
Nem sei a causa da minha antipatia pelo povo argentino. Nem acho eles tão arrogantes assim. Acho até meio caricatos. Maradona e Tevez parecem saídos de uma história em quadrinhos. Mas acabei gostando da surra que eles tomaram.

Também não conheço os jogadores da Alemanha, mas acabei torcendo fervorosamente para eles. Tudo por causa do meu falecido tio Helmut que era uma figuraça. Morou 50 anos no Brasil e 30 na Alemanha mas nunca soube falar o português direito e não existia para ele um país melhor que não fosse a Alemanha. Peraí Tio! Você veio novo pro Brasil, casou, teve filhos, trabalhou, morreu aqui e a Alemanha é o melhor país do mundo?

Ha! Tem algo melhor que o Brasil tem e que nenhum lugar do mundo tem: o Botafogo. Ele era fanático pelo alvinegro. Chegou no Brasil na época áurea do Garrincha e acabou também hipnotizado.

Em 2008 nos seus últimos dias teve, ao pé da cama, uma visão que deixou a todos perplexos. Convicto durante toda sua vida do seu ateísmo, réu confesso que não iríamos dessa para uma melhor, viu Jesus Cristo aos pés da cama sorrindo para ele. Chamou a Tia Therezinha (sua esposa) e disse com o sotaque aguçado que Jesus Cristo veio visitá-lo. Faleceu dias depois.

Até hoje me emociono muito ao lembrar desse fato e tenho certeza que ele foi desta para uma melhor sim, e é pelo meu Tio Helmut que hoje comemoro a vitória da Alemanha. Avasha Doravania!!!

quinta-feira, 1 de julho de 2010


MEUS INGRATOS NÚMEROS
São 21hs e ainda estou na loja fazendo o fechamento do mês de junho.
Cesinha foi buscar as crias na aula de circo (que inveja!) e fico cá com meus números que não me dão paz. Acredito que eles não gostem de mim (os números e não os filhos e marido) pois sempre o que tenho na conta é menos do que preciso pagar. Acho que não sei lidar com eles. Talvez não saiba encontrar fórmulas para fazê-los ficarem positivos ou até mesmo no zero a zero. Eles são sempre menos do que preciso.


Então continuo me dedicando às letras. Elas sim parecem ser minhas amigas. Gosto delas e acho que elas gostam de mim. Da A a Z todas são tão bonitinhas, boas de serem escritas, gostosas de serem faladas. Algo me diz que ainda seremos felizes para sempre.


Abandonarei então esse ingrato número que só me faz sofrer. Deixarei para os loucos que gostam de dominá-los.
Darei às costas para eles sem olhar para trás. De 0 a 1000 não quero nem o 9.

Basta que essas apaixonantes letras entendam que fomos feitas uma para a outra.

quarta-feira, 30 de junho de 2010




EU COMIGO MESMA.


Esse fim de semana que passou, meu marido e meus filhos foram ao Rio marcar presença no aniversário da Valentina, filha do meu querido cunhado Ricardo, que comemorava numa animada festinha seus 2 aninhos de vida.


Acabei ficando em Cabo Frio trabalhando, encaixotando coisas para a mudança rumo ao apê próprio (aleluia!), fazendo companhia pra Lola e Creme (cadela e gata), e principalmente ficando sozinha.


No sábado de noite fiz um pequeno lanche e grandes petiscos. Assisti ao filme que eu queria, no canal que eu queria, com a roupa que eu queria, no sofá que eu queria, tudo exatamente do jeitinho que eu queria. Recebi no fim da noite um telefonema do maridão pra se certificar se eu estava realmente em casa, me dando um certo sentimento de vaidade. Afinal ele ainda acha que posso sair pra quê? Pra balada? Bom, deixa ele pensar né? E que pense mesmo! Afinal, posso fazer o que eu quiser.


Acordei no domingo, tomei café, me arrumei, fui pra igreja, supermercado, dei banho na Lola, abri uma garrafa de proseco e resolvi elaborar uma lasanha. Nada de anormal se tudo não estivesse sendo feito exatamente na hora que eu queria, do jeito que eu queria.


Pensei comigo mesma o quanto aquele momento era bom e realizador. Quantas vezes quis ficar só, sozinha, comigo mesma e estava ali realizando finalmente meu grande desejo. Não que minha família não seja importante. São fundamentais pra mim! Mas estar só é muito bom!


Não precisava arrumar a cama para dar exemplo para as crianças, não precisava arrumar a mesa na hora do almoço por causa de todos, almoço esse que foi feito na hora que me deu fome, minha fome, só minha, de mais ninguém. Cada gole no meu copo era uma degustação do meu momento. Liguei o rádio, ouvi MPB e um tributo à Michael Jackson. Conversei com minha prima Marta e minha amiga Fafô no telefone e elas viveram comigo a delícia que é viver um "DOMINGO SEU". Cuidado maridos! Elas vão adotar futuramente essa idéia!


Dormi, claro, no jogo Argentina X México e acordei com a sensação que meu dia estava terminando. Às 22h minha família chegou, todos me abraçaram apertado como se estivéssemos ficado muitos dias longe um do outro e minha rotina voltou ao normal. Preparei um lanche para todos, vimos todos juntos ao canal que eles escolheram, e fomos todos dormir. Estar em família é maravilhoso, mas quase fechando meus olhos agradeci à Deus por ter vivido um domingo tão gostoso, com alguém tão legal (euzinha!) e principalmente ter ficado só sem me sentir sozinha.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

ISABELA,BELA,BELA!!!


Mãe me dá...!!!
Mãe, compra...!!!
Mãe, eu posso...!!!

A diferença entre um filho e uma filha é que elas são iguais às mães, e eu fico pensando como minha mãe conseguia me aguentar.

Isabela nasceu num parto normal maravilhoso e sem dor, carinha redonda, cabeluda, forte, saiu da maternidade já de brinquinhos na orelha linda por sinal, aliás tudo nela era lindo, diferente do Vinícius que quando saiu de mim achei melhor ele voltar pra barriga porque talvez não estivesse pronto.

Isabela me suga, me consome,me chantagia, me pergunta, me responde, me aconselha, me ignora, me critica e me admira.
Isabela é bagunceira da casa, alérgica de manhã, comilona de tarde, insone de noite.
Isabela é tudo que eu queria ser e tudo o que eu não queria ser.
Isabela é o meu problema e a minha solução.
Isabela é o meu devaneio e o meu pé no chão.
Isabela, só posso te agradecer...

Se tento a cada dia melhorar como ser humano, é porque tenho você minha filha.
ISABELA, BELA, BELA....

terça-feira, 22 de junho de 2010


VINÍCIUS!

Meu filho realmente é uma figura!
Adora se comunicar, contar histórias, piadas. Não sei quem puxou? (rsrsrsrsrs). Lembro da Tia Maria Eugênia contando que quando eu era pequena levava ela pra passear na cidade dando uma de cicerone. Era enturmada com todos. Na padaria ganhava pão doce, na sorveteria ganhava picolé gigante sabor framboesa aguada, andava de charrete de graça, tudo graças à minha doce e grande simpatia.
Hoje vejo meu filho exercendo funções que hoje me encabulo de vê-lo fazendo. Conversa com todos na rua, chama pelo nome as pessoas mesmo tendo visto somente uma vez (memória fotográfica incrível!) me deixando às vezes numa “saia justa”.
Uma vez encontramos com o prefeito da cidade no supermercado e ele rapidamente foi ao encontro dele me deixando quase sem respiração. Na frente da autoridade ele abre seus braços e diz:
-Oi Marquinho, lembra de mim?? Eu sou o Vinícius amigo do Danilo, filho do Gustavo!
Gustavo Beranger era o secretário de turismo na época, e meu filho talvez achasse que ele teria obrigação de conhecê-lo.
-Claro que lembro amiguinho! Tudo bem com você?
Responde gentilmente o prefeito. Então como se não bastasse Vinícius aponta na minha direção e ele acena pra mim. Com um sorriso amarelado respondo o adeuzinho, mas querendo no fundo, esganar meu filho por estar me botando numa situação constrangedora. O supermercado inteiro olhando praquela mãe que no mínimo deve ter falado “Vai lá dar um abraço no prefeito da nossa cidade!!!”
Vinícius volta pra perto de mim como se nada tivesse acontecido. Não adianta falar pra ele não fazer isso. É mais forte que ele. Ele mesmo diz que não consegue segurar essa vontade de falar, conversar, abraçar e festejar. É uma alegria viver ao lado de alguém que tem sempre um gesto de carinho para todos. Meu filho Vinícius é muito especial pra mim.

Copa do mundo 2010

Não vou torcer para a seleção brasileira.
Vou torcer pelo Brasil.

Não vou torcer para jogadores fazerem bonito.
Vou torcer para que membros do nosso congresso façam direito.

Não vou querer ver a bola rolando.
Vou querer ver uma democracia justa, com um sistema de impostos decente onde podemos usar nossos hospitais com dignidade.

Não quero ver a arquibancada cheia de torcedores uniformizados.
Quero ver o povo torcendo e lutando por um Brasil onde valha a pena viver, vestindo a camisa da “União Faz a Força”.

Não quero ver as luzes acesas do estádio.
Quero ver a luz da minha rua funcionando para que eu não seja assaltada quando retornar cansada do meu trabalho.

Não quero ver o levantar da taça.
Quero ver a força dos trabalhadores que lutam para a benfeitoria de um país em crescimento.

Não quero ver jabulanis tortas ou leves em ação nos pés de craques.
Quero ver praças limpas e arborizadas com campinhos, bolas murchas e velhas que fazem a alegria de crianças que lutam para não entrar no tráfico de drogas.

Não quero ouvir as vuvuzelas berrando.
Quero gritar para que nossos políticos façam direito e para o povo, sem pensarem neles mesmos. E eu quero que eles me ouçam!

Não quero ver um gramado impecável.
Quero ver estradas asfaltadas, mares e rios despoluídos e florestas longe da devastação.

Não quero ver um técnico passando coordenadas para jogadores.
Quero um presidente que mereça respeito e saiba que quando ele fala o povo acredita e luta em prol de um país melhor.

Não quero ver escanteios, faltas, pênaltis e impedimentos.
Quero deixar de ficar pra escanteio, quero que não me falte nada e não quero que penalidades máximas sejam esquecidas pelo sistema judiciário do nosso país. Que ninguém me impeça de ser feliz!

Por fim não quero ver jogadores levantando o dedo apontando pra cima e agradecendo pelo feito que só engrandecem a si mesmo.
Quero ver o dedo Daquele que me criou me indicando o caminho certo a ser seguido e Sua mão pronta para me abençoar em cada “corrida ao gol” da minha vida.


FERNANDA ARANTES VILLELA

Renata é minha irmã que tem uma escola em São Vicente de Minas chamada Escola Flor Amarela.
Excelente escritora fez um lindo texto falando sobre deficiências.
Ficou um bom tempo lutando pra provar sua autoria, pois descobriu que tal texto estava circulando na internet como o autor sendo Mário Quintana.
Conseguiu provar sua autoria e hoje faço questão de incluir no meu blog.
Na foto sua filha Luísa (minha afilhada), Renata, Eu, Fábio e Fabiana (também irmãos).
DEFICIÊNCIAS

"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.
"Louco" é quem não procura ser feliz".
"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria.
"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão.
"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.
"Diabético" é quem não consegue ser doce.
"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer.
E "Miserável" somos todos que não conseguimos falar com Deus.

Recentemente, o final do texto, foi divulgado na internet, com o título "Deficiências" e atribuído ao grande Mário Quintana. Com a ajuda de internautas estamos tentando desfazer o equívoco.
Texto escrito por Renata Arantes Villela (minha irmã)
Professora Renata.jpg

sábado, 19 de junho de 2010



A dona da história é a do meio (Jaqueline)

PÂNICO NO ÔNIBUS


E as férias chegaram!
Que delícia! Vou curtir a família e amigos! Lá vou eu passar um mês na minha cidade natal. Banhos de cachoeira, barzinhos lotados, um clima de paquera, sem hora pra acordar e dormir. Existe coisa melhor?
Foi um ano difícil considerando que tive problemas com o chefe no trabalho, tarefas complicadas na faculdade, fim de um longo namoro e uma síndrome do pânico que de uma hora pra outra invadiu minha consciência fazendo-me sentir uma caça. A sensação que tinha era de que alguém estava me observando, seguindo, fotografando, pronto pra acertar o alvo, no caso, eu mesma.
Se você já sentiu isso saiba que é um forte candidato a passar por momentos angustiantes e, pior, ridículos. Momentos conflitantes onde o protagonista vive o desconhecido envolvendo terceiros inocentes, como o que aconteceu comigo quando estava no ônibus, a caminho da terrinha e das férias tão esperadas.
Mamãe que me perdoe, mas esse medo todo começou com ela. Era medo de assaltos, baratas (principalmente), fantasmas, almas penadas, mendigos, luz apagada, janelas abertas, portas destrancadas, pés descalços. Fui nascida e criada num meio onde tudo era perigo e temor. Deu no que deu!
Como ia dizendo, entrei no ônibus rumo a tudo que há de bom no mundo, somando aos pães de queijo, broas, bolos, um breve adeus à minha dieta.
Seriam 14 horas de viagem numa estrada quase que abandonada pelo governo federal, estadual, municipal ou de quem mais queira assumir a irresponsabilidade, num ônibus tão confortável quanto um passeio de charrete Rio/Petrópolis. Mas eu estava preparada. Afinal “chutei o balde” com meu patrão, entreguei de qualquer jeito meu trabalho na faculdade (depois me viro com professor. Esse, pelo menos, é “gente fina”), terminei o namoro meio assim “depois que voltar de férias nós conversamos, mas agora vou dar um tempo”. Portanto nada me aborrecia!
Meu assento era o de número 23. Ficava praticamente no meio do ônibus e, que maravilha...na janela! Pra melhorar a situação, ninguém se sentou ao meu lado. Poderia abaixar as duas poltronas, fazer do meu casaco um bom travesseiro e, cansada da paisagem, dormir o resto de viagem. O mundo conspirava a meu favor!
No mesmo ônibus entra uma conhecida rumo à mesma cidade. Esqueci o nome dela. É irmã da Norma que estudou comigo no ginásio. Era mais nova do que a gente, meio fechadona, pra não dizer antipática. Aliás, a Norma também era. Além de antipática se considerava a mais bonita e inteligente. Como será que está hoje em dia? As pessoas mudam com o tempo. Eu era a mais alta, meio desengonçada e super-tímida. Morria de vergonha da minha estatura que realçava perto das outras. Hoje me sinto um espetáculo de mulher, com 1,75m, cabelos longos, sobrancelhas definidas, uma mulher segura, articulada, independente, a caminho das melhores férias da minha vida! Na casa dela o nome de todos começa com N (coisas de interior). Nélson, Norma, Norberto(Beto)e...lembrei! Neusa!
-Oi Neusa tudo bem? Tá indo pra casa também? Férias? Eu também! Legal! Como vai a Norma? Casou? Já tem um casal? Manda um beijo pra ela.
Pronto, fiz a minha parte de moça educada. Resumi meu assunto com ela esperando que aprenda o que é ser elegante e simpática.
Começa a viagem e estou tranquilinha da Silva! Temos muito chão pela frente, mas o que é isso pra quem tem um mês inteirinho pela frente de puro desfrute.
Andamos aproximadamente uns 40km quando de repente resolvo olhar pra trás e me deparo com um homem de aproximadamente 40 anos, mulato, vestindo uma camisa social azul-escuro, que imediatamente me encarou. Meu Deus! Que medo me deu! Ele quer fazer algo comigo! Tenho certeza! Me olhou com uma cara de poucos amigos! Será que ele vai parar o ônibus quando andarmos mais um pouco e render todos os passageiros? Talvez não! Subi devagarzinho a cabeça por cima da poltrona. Lá estava ele olhando pra mim. Meu Deus! O negócio é comigo! O que ele quer? O que fazer? Provavelmente me seguiu até a rodoviária me viu entrando no ônibus e resolveu tomar o mesmo rumo que o meu pra ver se conseguia me capturar. Só podia ser! Foi quando o assento da poltrona foi ficando quente, quente, quente!Ui! Dei um pulo. Me queimou esse banco! Ai que vergonha!
Parecia que agora não só aquele tarado, maníaco, louco, sabe o que mais me observava, mas também todos que estavam sentados do número 25 para trás. Preciso rezar, pensei! Alguma alma generosa vai entender o conflito íntimo pelo qual estou passando e vai querer me ajudar.
Neusa! Lembrei dela! A Neusa vai me ajudar, afinal fomos praticamente criadas juntas...quer dizer, não tão juntas assim, mas lá vou eu!
-Neusa! Me faz um favor! Você se incomoda de rezar uma Ave Maria comigo?
Neusa me olhou meio sem entender o porquê daquele pedido tão descabido, numa hora inapropriada, num momento completamente sem nexo. Olhou para os lados pra ver se alguém tinha assistido àquela situação e muito sem graça disse: - “Tudo bem!”. Ótimo! Rapidinho me sentei ao seu lado, segurei firme na sua mão, fechei os olhos e comecei: “Ave Maria, cheia de graças..” e lá fui eu debulhando minha Ave Maria com tremendo fervor! Pronto, agora estou mais calma. Abri os olhos e vejo uma Neusa de olhos esbugalhados pra mim, quase que com medo.
-Obrigada Neusa! Agora vou voltar pro meu lugar! Desculpa te incomodar viu?
E retornei à minha poltrona, ao mesmo tempo aliviada e constrangida. Que situação! Mas não vou esquentar com isso agora. O que importa é que estou me sentindo mais leve. Como tem poder e força uma oração quando feita com fé! Pensei. Nem olhei pro “dito cujo” que causou todo esse transtorno. Aliás, ele não tem culpa de nada. É essa maldita síndrome de pânico que me faz sentir esse medo de perseguição seguida de morte.
Sentei, dobrei meu casaquinho, olhei pra paisagem, tentando apagar tudo da minha mente e recomeçar minha viagem rumo às já não tão melhores férias de minha vida. Recostei minha cabeça tentando me entregar aos braços de Morfeu, quando sinto novamente a cadeira esquentar, ferver...Fogo!Fogo! Tá pegando fogo! Levanto-me e olho pra trás. Lá está ele! Agora de olhos fechados! Fingindo que está dormindo, lógico! Disfarçando o danado! Ele quer me deixar numa situação ridícula passando-se por bonzinho, mas eu sei muito bem que ele tem as piores intenções para comigo. Não me faço de rogada. Levanto-me rapidamente e tomo o rumo da poltrona da Neusa, afinal somos agora amigas e ela me entende!
-Neusa!
Dessa vez já me sento rapidinho ao lado dela.
-Olha, preciso que você reze o Pai Nosso agora comigo! Pode ser?
Coitada da Neusa. Nem dava espaço pra ela falar nada. Já peguei na sua mão, apertei com mais fé ainda, fechei os olhos, e...”-Pai nosso que estais no céu...” e fui devagarzinho ficando calma, calma, e no “Amém” abri os olhos e lá estava a Neusa com cara de que definitivamente eu não era normal.
- “Brigada” Neusa, agora vou voltar pro meu lugar. Você está sendo muito legal comigo viu?
E voltei chacoalhando pra poltrona que durante a viagem mal me acomodou. Passei 14horas da viagem olhando pra trás, com minha bunda queimando, tomando o rumo da Neusa e rezando, ora uma Ave Maria, ora um Pai Nosso. Algumas vezes dava de cara com ela dormindo, de boca aberta, quase babando. Dava um cutucãozinho de leve e pedia com as duas mãos juntas quase que implorando.
–Neusa, dessa vez é só um paizinho! Pequenininho.
Fazia com os dedos indicador e polegar o tamanho do Pai Nosso.
-Por favor!
Ela se acomodava arrumando o cabelo e me dava a mão. Agora até ela fechava os olhos. Não sei se ela dormia enquanto eu rezava ou também rezava, mas para que definitivamente eu morresse. Coitada da Neusa! Tão bacana. Sempre achei que ela fosse uma menina legal. Assim como sua irmã Norma e toda sua família. A gente muda né? Só não sei por que toda vez que a encontro na nossa cidade natal ela atravessa a rua!
As férias realmente foram as melhores da minha vida, mas o retorno pra faculdade, trabalho e antigo namorado não me decepcionaram. Nada como um bom intervalo para recarregar nossas baterias e começarmos um novo tempo com garra, força e perseverança.
A síndrome de pânico me persegue ainda, porém com menos intensidade e queimando menos. Acho que aquela viagem foi suficiente para começar um tratamento regado a muito autoconhecimento e controle da situação. Guardo na memória todas as expressões da Neusa e imagino o que ela deve ter falado de mim para minha amiga Norma quando chegou em casa.
O homem que estava na poltrona de trás? Era um representante comercial da indústria têxtil que viajava de cidade em cidade oferecendo viscoses, sedas, crepes e cambraias. Aquele monstro que via nele era só uma psicose minha.
Pior foi o que me aconteceu quando fui madrinha de casamento de um grande amigo. Mas isso já é um outro conto que um dia eu conto.

Fato contado e florido pro mim!
Dedicado à minha grande amiga e irmã Jacqueline Jaber Barbosa.







FERNANDA VILLELA

DESTINO

Sempre achei que houvesse um porquê de estar nesse mundo. Nunca me dei por satisfeita, vendo minha barriga cheia enquanto tantos morriam de fome. Sempre procurei estar presente na dedicação aos mais necessitados. Apesar de ter nascido quase em berço de ouro e criada como uma princesa, passando das mãos do pai para a mão do marido, não tinha homem que me fizesse ficar parada em casa, só cuidando de filhos e freqüentando salões de beleza e jantares sociais. Meu negócio era pegar meu fusquinha, que, na época, era o carro da moda, colocar meus quatro filhos, pequenos ainda, no banco de trás e tomar o rumo da Tataúba, o bairro mais miserável que tinha na cidade. Lá sim, me sentia gente e consciente do objetivo divino: ser alguém pra fazer o bem.

Entre todas essas andanças pela vida, tomei outra decisão importante: adotar um filho. A essa altura, com a família estruturada e filhos crescidos, precisava ter alguém que precisasse realmente de uma mãe. Lá estava eu, prontinha, a me dedicar de corpo, alma e até seios se fosse preciso. A adoção não foi só minha, foi de todos. Éramos uma família escolhida para acolher Fabiana. Aquela menina, tão pequenina e fraquinha. Vinte e três dias de vida somente e, a partir de agora com um futuro imenso pela frente. O paparico era geral. Ela segurava com a mãozinha o nosso dedo, com força, talvez querendo que ficássemos perto o tempo todo. Foi o que aconteceu! Que sortuda essa garota! Veio ao mundo para ser feliz, vez que ganhou pais tão dedicados e irmãos tão carinhosos.

Já entrando na terceira idade, me deparo com o maior problema da minha vida. Meu marido passou a fazer hemodiálise e no decorrer de dois anos vi meu grande amor definhar na minha frente.

Nunca bebeu, fumou, mas sempre adorou uma boa mesa, farta e agora tinha que se contentar com um pouquinho disso, mais aquilo, tudo completamente sem sal, ou quase isso. Estava resumido a um pedaço de gente sem a menor pretensão de continuar vivendo nessas condições precárias.

Passei, então, a providenciar sua pastinha de palavras cruzadas, arrumar um forro bem lavado e cheiroso para cobrir sua cadeira onde fazia quatro horas de hemodiálise e um travesseirinho para os pés, tentando, assim, aliviar seu sofrimento. Três vezes na semana, às 6h da manhã ele saía para renovar seu organismo. Me dava um beijo na testa e ouvia de mim um “ Vai com Deus” bem animado. Mas ao fechar das portas, só mesmo Ele sabia o quanto era difícil compartilhar dessa dor.

Seu estado foi definhando, e seus olhos já não tinham mais brilho algum, quando surgiu uma esperança: um transplante renal. Como? Onde? De quem? Talvez dos filhos, dos irmãos, ou quem sabe da esposa!

A esposa! Após dezenas de anos de convivência, quem sabe ela tenha chances de conseguir doar o rim. A compatibilidade acontece aos poucos e, no caso, claro que iria acontecer comigo! Muitos, mas muitos exames foram realizados. E chegou-se à conclusão: eu seria a doadora do rim para aquele que passou por tantas e boas comigo e, naquele momento, mais do que nunca precisava da mão estendida de quem sempre esteve disposta a estender. Foi ali, na hora em que nos casamos e com as alianças colocadas nas nossas mãos que senti nossos laços unidos para sempre, e agora com um rim meu dentro dele, funcionando a todo vapor, nada poderia conspirar contra. Era a vontade divina e seria feita a todo custo.

Mãos dadas, em macas separadas, ele olhou pra mim meio sem graça. Estava pálido e enrugado. A máquina que filtra também suga. Eu estava sorrindo e tendo a absoluta certeza de que tudo iria dar certo.

Ele entra primeiro, enquanto aguardo deitada a minha vez. Lembro da Tataúba, dos meus filhos tão grandes já, e da minha caçulinha, também uma moça e muito parecida comigo. E lembro de Deus ainda dentro da barriga da minha mãe, me dizendo que minha vida era de entrega e amor e que aquele momento que eu estava passando era o mais lindo e realizador. Sairia do hospital com um rim a menos, mas um marido novo em folha, uma família mais unida ainda e a certeza de que tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Acho que já ouvi isso antes. Numa música, talvez, ou num verso. Não sei. A anestesia está fazendo efeito. Meu olhos vão-se fechando, fechando, fechando...

Fato verídico acontecido com a minha mãe Isa Villela