quarta-feira, 30 de junho de 2010




EU COMIGO MESMA.


Esse fim de semana que passou, meu marido e meus filhos foram ao Rio marcar presença no aniversário da Valentina, filha do meu querido cunhado Ricardo, que comemorava numa animada festinha seus 2 aninhos de vida.


Acabei ficando em Cabo Frio trabalhando, encaixotando coisas para a mudança rumo ao apê próprio (aleluia!), fazendo companhia pra Lola e Creme (cadela e gata), e principalmente ficando sozinha.


No sábado de noite fiz um pequeno lanche e grandes petiscos. Assisti ao filme que eu queria, no canal que eu queria, com a roupa que eu queria, no sofá que eu queria, tudo exatamente do jeitinho que eu queria. Recebi no fim da noite um telefonema do maridão pra se certificar se eu estava realmente em casa, me dando um certo sentimento de vaidade. Afinal ele ainda acha que posso sair pra quê? Pra balada? Bom, deixa ele pensar né? E que pense mesmo! Afinal, posso fazer o que eu quiser.


Acordei no domingo, tomei café, me arrumei, fui pra igreja, supermercado, dei banho na Lola, abri uma garrafa de proseco e resolvi elaborar uma lasanha. Nada de anormal se tudo não estivesse sendo feito exatamente na hora que eu queria, do jeito que eu queria.


Pensei comigo mesma o quanto aquele momento era bom e realizador. Quantas vezes quis ficar só, sozinha, comigo mesma e estava ali realizando finalmente meu grande desejo. Não que minha família não seja importante. São fundamentais pra mim! Mas estar só é muito bom!


Não precisava arrumar a cama para dar exemplo para as crianças, não precisava arrumar a mesa na hora do almoço por causa de todos, almoço esse que foi feito na hora que me deu fome, minha fome, só minha, de mais ninguém. Cada gole no meu copo era uma degustação do meu momento. Liguei o rádio, ouvi MPB e um tributo à Michael Jackson. Conversei com minha prima Marta e minha amiga Fafô no telefone e elas viveram comigo a delícia que é viver um "DOMINGO SEU". Cuidado maridos! Elas vão adotar futuramente essa idéia!


Dormi, claro, no jogo Argentina X México e acordei com a sensação que meu dia estava terminando. Às 22h minha família chegou, todos me abraçaram apertado como se estivéssemos ficado muitos dias longe um do outro e minha rotina voltou ao normal. Preparei um lanche para todos, vimos todos juntos ao canal que eles escolheram, e fomos todos dormir. Estar em família é maravilhoso, mas quase fechando meus olhos agradeci à Deus por ter vivido um domingo tão gostoso, com alguém tão legal (euzinha!) e principalmente ter ficado só sem me sentir sozinha.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

ISABELA,BELA,BELA!!!


Mãe me dá...!!!
Mãe, compra...!!!
Mãe, eu posso...!!!

A diferença entre um filho e uma filha é que elas são iguais às mães, e eu fico pensando como minha mãe conseguia me aguentar.

Isabela nasceu num parto normal maravilhoso e sem dor, carinha redonda, cabeluda, forte, saiu da maternidade já de brinquinhos na orelha linda por sinal, aliás tudo nela era lindo, diferente do Vinícius que quando saiu de mim achei melhor ele voltar pra barriga porque talvez não estivesse pronto.

Isabela me suga, me consome,me chantagia, me pergunta, me responde, me aconselha, me ignora, me critica e me admira.
Isabela é bagunceira da casa, alérgica de manhã, comilona de tarde, insone de noite.
Isabela é tudo que eu queria ser e tudo o que eu não queria ser.
Isabela é o meu problema e a minha solução.
Isabela é o meu devaneio e o meu pé no chão.
Isabela, só posso te agradecer...

Se tento a cada dia melhorar como ser humano, é porque tenho você minha filha.
ISABELA, BELA, BELA....

terça-feira, 22 de junho de 2010


VINÍCIUS!

Meu filho realmente é uma figura!
Adora se comunicar, contar histórias, piadas. Não sei quem puxou? (rsrsrsrsrs). Lembro da Tia Maria Eugênia contando que quando eu era pequena levava ela pra passear na cidade dando uma de cicerone. Era enturmada com todos. Na padaria ganhava pão doce, na sorveteria ganhava picolé gigante sabor framboesa aguada, andava de charrete de graça, tudo graças à minha doce e grande simpatia.
Hoje vejo meu filho exercendo funções que hoje me encabulo de vê-lo fazendo. Conversa com todos na rua, chama pelo nome as pessoas mesmo tendo visto somente uma vez (memória fotográfica incrível!) me deixando às vezes numa “saia justa”.
Uma vez encontramos com o prefeito da cidade no supermercado e ele rapidamente foi ao encontro dele me deixando quase sem respiração. Na frente da autoridade ele abre seus braços e diz:
-Oi Marquinho, lembra de mim?? Eu sou o Vinícius amigo do Danilo, filho do Gustavo!
Gustavo Beranger era o secretário de turismo na época, e meu filho talvez achasse que ele teria obrigação de conhecê-lo.
-Claro que lembro amiguinho! Tudo bem com você?
Responde gentilmente o prefeito. Então como se não bastasse Vinícius aponta na minha direção e ele acena pra mim. Com um sorriso amarelado respondo o adeuzinho, mas querendo no fundo, esganar meu filho por estar me botando numa situação constrangedora. O supermercado inteiro olhando praquela mãe que no mínimo deve ter falado “Vai lá dar um abraço no prefeito da nossa cidade!!!”
Vinícius volta pra perto de mim como se nada tivesse acontecido. Não adianta falar pra ele não fazer isso. É mais forte que ele. Ele mesmo diz que não consegue segurar essa vontade de falar, conversar, abraçar e festejar. É uma alegria viver ao lado de alguém que tem sempre um gesto de carinho para todos. Meu filho Vinícius é muito especial pra mim.

Copa do mundo 2010

Não vou torcer para a seleção brasileira.
Vou torcer pelo Brasil.

Não vou torcer para jogadores fazerem bonito.
Vou torcer para que membros do nosso congresso façam direito.

Não vou querer ver a bola rolando.
Vou querer ver uma democracia justa, com um sistema de impostos decente onde podemos usar nossos hospitais com dignidade.

Não quero ver a arquibancada cheia de torcedores uniformizados.
Quero ver o povo torcendo e lutando por um Brasil onde valha a pena viver, vestindo a camisa da “União Faz a Força”.

Não quero ver as luzes acesas do estádio.
Quero ver a luz da minha rua funcionando para que eu não seja assaltada quando retornar cansada do meu trabalho.

Não quero ver o levantar da taça.
Quero ver a força dos trabalhadores que lutam para a benfeitoria de um país em crescimento.

Não quero ver jabulanis tortas ou leves em ação nos pés de craques.
Quero ver praças limpas e arborizadas com campinhos, bolas murchas e velhas que fazem a alegria de crianças que lutam para não entrar no tráfico de drogas.

Não quero ouvir as vuvuzelas berrando.
Quero gritar para que nossos políticos façam direito e para o povo, sem pensarem neles mesmos. E eu quero que eles me ouçam!

Não quero ver um gramado impecável.
Quero ver estradas asfaltadas, mares e rios despoluídos e florestas longe da devastação.

Não quero ver um técnico passando coordenadas para jogadores.
Quero um presidente que mereça respeito e saiba que quando ele fala o povo acredita e luta em prol de um país melhor.

Não quero ver escanteios, faltas, pênaltis e impedimentos.
Quero deixar de ficar pra escanteio, quero que não me falte nada e não quero que penalidades máximas sejam esquecidas pelo sistema judiciário do nosso país. Que ninguém me impeça de ser feliz!

Por fim não quero ver jogadores levantando o dedo apontando pra cima e agradecendo pelo feito que só engrandecem a si mesmo.
Quero ver o dedo Daquele que me criou me indicando o caminho certo a ser seguido e Sua mão pronta para me abençoar em cada “corrida ao gol” da minha vida.


FERNANDA ARANTES VILLELA

Renata é minha irmã que tem uma escola em São Vicente de Minas chamada Escola Flor Amarela.
Excelente escritora fez um lindo texto falando sobre deficiências.
Ficou um bom tempo lutando pra provar sua autoria, pois descobriu que tal texto estava circulando na internet como o autor sendo Mário Quintana.
Conseguiu provar sua autoria e hoje faço questão de incluir no meu blog.
Na foto sua filha Luísa (minha afilhada), Renata, Eu, Fábio e Fabiana (também irmãos).
DEFICIÊNCIAS

"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.
"Louco" é quem não procura ser feliz".
"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria.
"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão.
"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.
"Diabético" é quem não consegue ser doce.
"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer.
E "Miserável" somos todos que não conseguimos falar com Deus.

Recentemente, o final do texto, foi divulgado na internet, com o título "Deficiências" e atribuído ao grande Mário Quintana. Com a ajuda de internautas estamos tentando desfazer o equívoco.
Texto escrito por Renata Arantes Villela (minha irmã)
Professora Renata.jpg

sábado, 19 de junho de 2010



A dona da história é a do meio (Jaqueline)

PÂNICO NO ÔNIBUS


E as férias chegaram!
Que delícia! Vou curtir a família e amigos! Lá vou eu passar um mês na minha cidade natal. Banhos de cachoeira, barzinhos lotados, um clima de paquera, sem hora pra acordar e dormir. Existe coisa melhor?
Foi um ano difícil considerando que tive problemas com o chefe no trabalho, tarefas complicadas na faculdade, fim de um longo namoro e uma síndrome do pânico que de uma hora pra outra invadiu minha consciência fazendo-me sentir uma caça. A sensação que tinha era de que alguém estava me observando, seguindo, fotografando, pronto pra acertar o alvo, no caso, eu mesma.
Se você já sentiu isso saiba que é um forte candidato a passar por momentos angustiantes e, pior, ridículos. Momentos conflitantes onde o protagonista vive o desconhecido envolvendo terceiros inocentes, como o que aconteceu comigo quando estava no ônibus, a caminho da terrinha e das férias tão esperadas.
Mamãe que me perdoe, mas esse medo todo começou com ela. Era medo de assaltos, baratas (principalmente), fantasmas, almas penadas, mendigos, luz apagada, janelas abertas, portas destrancadas, pés descalços. Fui nascida e criada num meio onde tudo era perigo e temor. Deu no que deu!
Como ia dizendo, entrei no ônibus rumo a tudo que há de bom no mundo, somando aos pães de queijo, broas, bolos, um breve adeus à minha dieta.
Seriam 14 horas de viagem numa estrada quase que abandonada pelo governo federal, estadual, municipal ou de quem mais queira assumir a irresponsabilidade, num ônibus tão confortável quanto um passeio de charrete Rio/Petrópolis. Mas eu estava preparada. Afinal “chutei o balde” com meu patrão, entreguei de qualquer jeito meu trabalho na faculdade (depois me viro com professor. Esse, pelo menos, é “gente fina”), terminei o namoro meio assim “depois que voltar de férias nós conversamos, mas agora vou dar um tempo”. Portanto nada me aborrecia!
Meu assento era o de número 23. Ficava praticamente no meio do ônibus e, que maravilha...na janela! Pra melhorar a situação, ninguém se sentou ao meu lado. Poderia abaixar as duas poltronas, fazer do meu casaco um bom travesseiro e, cansada da paisagem, dormir o resto de viagem. O mundo conspirava a meu favor!
No mesmo ônibus entra uma conhecida rumo à mesma cidade. Esqueci o nome dela. É irmã da Norma que estudou comigo no ginásio. Era mais nova do que a gente, meio fechadona, pra não dizer antipática. Aliás, a Norma também era. Além de antipática se considerava a mais bonita e inteligente. Como será que está hoje em dia? As pessoas mudam com o tempo. Eu era a mais alta, meio desengonçada e super-tímida. Morria de vergonha da minha estatura que realçava perto das outras. Hoje me sinto um espetáculo de mulher, com 1,75m, cabelos longos, sobrancelhas definidas, uma mulher segura, articulada, independente, a caminho das melhores férias da minha vida! Na casa dela o nome de todos começa com N (coisas de interior). Nélson, Norma, Norberto(Beto)e...lembrei! Neusa!
-Oi Neusa tudo bem? Tá indo pra casa também? Férias? Eu também! Legal! Como vai a Norma? Casou? Já tem um casal? Manda um beijo pra ela.
Pronto, fiz a minha parte de moça educada. Resumi meu assunto com ela esperando que aprenda o que é ser elegante e simpática.
Começa a viagem e estou tranquilinha da Silva! Temos muito chão pela frente, mas o que é isso pra quem tem um mês inteirinho pela frente de puro desfrute.
Andamos aproximadamente uns 40km quando de repente resolvo olhar pra trás e me deparo com um homem de aproximadamente 40 anos, mulato, vestindo uma camisa social azul-escuro, que imediatamente me encarou. Meu Deus! Que medo me deu! Ele quer fazer algo comigo! Tenho certeza! Me olhou com uma cara de poucos amigos! Será que ele vai parar o ônibus quando andarmos mais um pouco e render todos os passageiros? Talvez não! Subi devagarzinho a cabeça por cima da poltrona. Lá estava ele olhando pra mim. Meu Deus! O negócio é comigo! O que ele quer? O que fazer? Provavelmente me seguiu até a rodoviária me viu entrando no ônibus e resolveu tomar o mesmo rumo que o meu pra ver se conseguia me capturar. Só podia ser! Foi quando o assento da poltrona foi ficando quente, quente, quente!Ui! Dei um pulo. Me queimou esse banco! Ai que vergonha!
Parecia que agora não só aquele tarado, maníaco, louco, sabe o que mais me observava, mas também todos que estavam sentados do número 25 para trás. Preciso rezar, pensei! Alguma alma generosa vai entender o conflito íntimo pelo qual estou passando e vai querer me ajudar.
Neusa! Lembrei dela! A Neusa vai me ajudar, afinal fomos praticamente criadas juntas...quer dizer, não tão juntas assim, mas lá vou eu!
-Neusa! Me faz um favor! Você se incomoda de rezar uma Ave Maria comigo?
Neusa me olhou meio sem entender o porquê daquele pedido tão descabido, numa hora inapropriada, num momento completamente sem nexo. Olhou para os lados pra ver se alguém tinha assistido àquela situação e muito sem graça disse: - “Tudo bem!”. Ótimo! Rapidinho me sentei ao seu lado, segurei firme na sua mão, fechei os olhos e comecei: “Ave Maria, cheia de graças..” e lá fui eu debulhando minha Ave Maria com tremendo fervor! Pronto, agora estou mais calma. Abri os olhos e vejo uma Neusa de olhos esbugalhados pra mim, quase que com medo.
-Obrigada Neusa! Agora vou voltar pro meu lugar! Desculpa te incomodar viu?
E retornei à minha poltrona, ao mesmo tempo aliviada e constrangida. Que situação! Mas não vou esquentar com isso agora. O que importa é que estou me sentindo mais leve. Como tem poder e força uma oração quando feita com fé! Pensei. Nem olhei pro “dito cujo” que causou todo esse transtorno. Aliás, ele não tem culpa de nada. É essa maldita síndrome de pânico que me faz sentir esse medo de perseguição seguida de morte.
Sentei, dobrei meu casaquinho, olhei pra paisagem, tentando apagar tudo da minha mente e recomeçar minha viagem rumo às já não tão melhores férias de minha vida. Recostei minha cabeça tentando me entregar aos braços de Morfeu, quando sinto novamente a cadeira esquentar, ferver...Fogo!Fogo! Tá pegando fogo! Levanto-me e olho pra trás. Lá está ele! Agora de olhos fechados! Fingindo que está dormindo, lógico! Disfarçando o danado! Ele quer me deixar numa situação ridícula passando-se por bonzinho, mas eu sei muito bem que ele tem as piores intenções para comigo. Não me faço de rogada. Levanto-me rapidamente e tomo o rumo da poltrona da Neusa, afinal somos agora amigas e ela me entende!
-Neusa!
Dessa vez já me sento rapidinho ao lado dela.
-Olha, preciso que você reze o Pai Nosso agora comigo! Pode ser?
Coitada da Neusa. Nem dava espaço pra ela falar nada. Já peguei na sua mão, apertei com mais fé ainda, fechei os olhos, e...”-Pai nosso que estais no céu...” e fui devagarzinho ficando calma, calma, e no “Amém” abri os olhos e lá estava a Neusa com cara de que definitivamente eu não era normal.
- “Brigada” Neusa, agora vou voltar pro meu lugar. Você está sendo muito legal comigo viu?
E voltei chacoalhando pra poltrona que durante a viagem mal me acomodou. Passei 14horas da viagem olhando pra trás, com minha bunda queimando, tomando o rumo da Neusa e rezando, ora uma Ave Maria, ora um Pai Nosso. Algumas vezes dava de cara com ela dormindo, de boca aberta, quase babando. Dava um cutucãozinho de leve e pedia com as duas mãos juntas quase que implorando.
–Neusa, dessa vez é só um paizinho! Pequenininho.
Fazia com os dedos indicador e polegar o tamanho do Pai Nosso.
-Por favor!
Ela se acomodava arrumando o cabelo e me dava a mão. Agora até ela fechava os olhos. Não sei se ela dormia enquanto eu rezava ou também rezava, mas para que definitivamente eu morresse. Coitada da Neusa! Tão bacana. Sempre achei que ela fosse uma menina legal. Assim como sua irmã Norma e toda sua família. A gente muda né? Só não sei por que toda vez que a encontro na nossa cidade natal ela atravessa a rua!
As férias realmente foram as melhores da minha vida, mas o retorno pra faculdade, trabalho e antigo namorado não me decepcionaram. Nada como um bom intervalo para recarregar nossas baterias e começarmos um novo tempo com garra, força e perseverança.
A síndrome de pânico me persegue ainda, porém com menos intensidade e queimando menos. Acho que aquela viagem foi suficiente para começar um tratamento regado a muito autoconhecimento e controle da situação. Guardo na memória todas as expressões da Neusa e imagino o que ela deve ter falado de mim para minha amiga Norma quando chegou em casa.
O homem que estava na poltrona de trás? Era um representante comercial da indústria têxtil que viajava de cidade em cidade oferecendo viscoses, sedas, crepes e cambraias. Aquele monstro que via nele era só uma psicose minha.
Pior foi o que me aconteceu quando fui madrinha de casamento de um grande amigo. Mas isso já é um outro conto que um dia eu conto.

Fato contado e florido pro mim!
Dedicado à minha grande amiga e irmã Jacqueline Jaber Barbosa.







FERNANDA VILLELA

DESTINO

Sempre achei que houvesse um porquê de estar nesse mundo. Nunca me dei por satisfeita, vendo minha barriga cheia enquanto tantos morriam de fome. Sempre procurei estar presente na dedicação aos mais necessitados. Apesar de ter nascido quase em berço de ouro e criada como uma princesa, passando das mãos do pai para a mão do marido, não tinha homem que me fizesse ficar parada em casa, só cuidando de filhos e freqüentando salões de beleza e jantares sociais. Meu negócio era pegar meu fusquinha, que, na época, era o carro da moda, colocar meus quatro filhos, pequenos ainda, no banco de trás e tomar o rumo da Tataúba, o bairro mais miserável que tinha na cidade. Lá sim, me sentia gente e consciente do objetivo divino: ser alguém pra fazer o bem.

Entre todas essas andanças pela vida, tomei outra decisão importante: adotar um filho. A essa altura, com a família estruturada e filhos crescidos, precisava ter alguém que precisasse realmente de uma mãe. Lá estava eu, prontinha, a me dedicar de corpo, alma e até seios se fosse preciso. A adoção não foi só minha, foi de todos. Éramos uma família escolhida para acolher Fabiana. Aquela menina, tão pequenina e fraquinha. Vinte e três dias de vida somente e, a partir de agora com um futuro imenso pela frente. O paparico era geral. Ela segurava com a mãozinha o nosso dedo, com força, talvez querendo que ficássemos perto o tempo todo. Foi o que aconteceu! Que sortuda essa garota! Veio ao mundo para ser feliz, vez que ganhou pais tão dedicados e irmãos tão carinhosos.

Já entrando na terceira idade, me deparo com o maior problema da minha vida. Meu marido passou a fazer hemodiálise e no decorrer de dois anos vi meu grande amor definhar na minha frente.

Nunca bebeu, fumou, mas sempre adorou uma boa mesa, farta e agora tinha que se contentar com um pouquinho disso, mais aquilo, tudo completamente sem sal, ou quase isso. Estava resumido a um pedaço de gente sem a menor pretensão de continuar vivendo nessas condições precárias.

Passei, então, a providenciar sua pastinha de palavras cruzadas, arrumar um forro bem lavado e cheiroso para cobrir sua cadeira onde fazia quatro horas de hemodiálise e um travesseirinho para os pés, tentando, assim, aliviar seu sofrimento. Três vezes na semana, às 6h da manhã ele saía para renovar seu organismo. Me dava um beijo na testa e ouvia de mim um “ Vai com Deus” bem animado. Mas ao fechar das portas, só mesmo Ele sabia o quanto era difícil compartilhar dessa dor.

Seu estado foi definhando, e seus olhos já não tinham mais brilho algum, quando surgiu uma esperança: um transplante renal. Como? Onde? De quem? Talvez dos filhos, dos irmãos, ou quem sabe da esposa!

A esposa! Após dezenas de anos de convivência, quem sabe ela tenha chances de conseguir doar o rim. A compatibilidade acontece aos poucos e, no caso, claro que iria acontecer comigo! Muitos, mas muitos exames foram realizados. E chegou-se à conclusão: eu seria a doadora do rim para aquele que passou por tantas e boas comigo e, naquele momento, mais do que nunca precisava da mão estendida de quem sempre esteve disposta a estender. Foi ali, na hora em que nos casamos e com as alianças colocadas nas nossas mãos que senti nossos laços unidos para sempre, e agora com um rim meu dentro dele, funcionando a todo vapor, nada poderia conspirar contra. Era a vontade divina e seria feita a todo custo.

Mãos dadas, em macas separadas, ele olhou pra mim meio sem graça. Estava pálido e enrugado. A máquina que filtra também suga. Eu estava sorrindo e tendo a absoluta certeza de que tudo iria dar certo.

Ele entra primeiro, enquanto aguardo deitada a minha vez. Lembro da Tataúba, dos meus filhos tão grandes já, e da minha caçulinha, também uma moça e muito parecida comigo. E lembro de Deus ainda dentro da barriga da minha mãe, me dizendo que minha vida era de entrega e amor e que aquele momento que eu estava passando era o mais lindo e realizador. Sairia do hospital com um rim a menos, mas um marido novo em folha, uma família mais unida ainda e a certeza de que tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Acho que já ouvi isso antes. Numa música, talvez, ou num verso. Não sei. A anestesia está fazendo efeito. Meu olhos vão-se fechando, fechando, fechando...

Fato verídico acontecido com a minha mãe Isa Villela